com a palavra

Engenheiro fala sobre aventuras e histórias curiosas que viveu


Fotos: Alcio Diniz (arquivo pessoal)

Um cidadão do mundo. Assim podemos definir o engenheiro mecânico Alcio Diniz, 76 anos. Nascido em São Leopoldo e crescido em Barra do Quaraí, na fronteira com a Argentina, Diniz acumula muitas histórias, no mínimo, curiosas, além de motivadoras. Levado sempre pela curiosidade e pelo desejo de fazer mais, chegou a viajar pela Europa, escondido em um navio. Lá, ele fez o Ensino Superior. Em uma feira em Paris, conheceu e se tornou amigo de um dos homens mais ricos do planeta, o mexicano Carlos Slim, empresário de telecomunicações. Casado com a dona de casa Maria Emília, há 30 anos, ele é pai da advogada Priscila e do estudante de Medicina Diego, seus grandes orgulhos. Os netos Dante e João completam a alegria dele, que é incansável e não pensa em se aposentar. Atualmente, Diniz atua como conselheiro da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) e como assessor mecânico e empresarial de empresas do Brasil e do Exterior. Mesmo viajando bastante, ele reside em Santa Maria, onde adora se deslocar em sua estilosa Ford Rural. Nesta entrevista, confira um pouco dessa trajetória.

Diário - O que levou o senhor a percorrer várias cidades do mundo?
Alcio Diniz -
A inquietação em aprender e uma curiosidade infinita em todos os aspectos. Desde menino, eu queria entender desde o funcionamento de um formigueiro à estabilidade das cadeiras ou de uma mesa. Nasci em cidade grande, mas fui criado no campo, ao ar livre, de uma forma maravilhosa. Meu pai, Aníbal, era ferroviário. Minha mãe, Adelina, dona de casa. Lembro que minhas irmãs, Tania e Vera, e eu adorávamos os passeios de carruagem que fazíamos nas folgas do pai. Eu era adolescente quando voltamos para São Leopoldo, onde fiz curso de torneiro mecânico pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Sair do interior foi bom, mas era pouco para mim. Até hoje sou aventureiro, um explorador.


Misturador de borracha desenvolvido por Diniz ainda na juventude

Diário - Aos 17 anos, o senhor viveu a primeira aventura de viagem. Como foi?
Diniz
- Na época, só se falava da construção de Brasília. Quis ver de perto. Como assim, construir uma cidade? Um amigo e eu pegamos nossas lambretas e nos jogamos na estrada. Sem dinheiro, sem conhecer ninguém. Meus pais não me impediam de nada. Éramos muito livres. No percurso, éramos acolhidos por moradores de diferentes lugares que nos davam abrigo, alimento, gasolina e até pneus melhores para as motos. Passamos trabalho, mesmo assim, foi uma experiência maravilhosa. De volta, arrumei o meu primeiro emprego em Novo Hamburgo. O contrato era para auxiliar de desenho. Em pouco tempo, passei a desenhista profissional, chefe de engenharia, desenvolvi máquinas fumageiras, prensas, laminadores de borracha. Peguei um mercado novo e, na época, pouco explorado no Brasil. Fiquei seis anos com eles.

Diário - Não contente, foi para a Europa. Como embarcou escondido em um navio?
Diniz
- Ah! Eu queria muito ir para a Europa. Tinha certeza de que lá tinha um universo diferente a ser explorado. Minha mente não parava e até hoje não se aquieta. Eu precisava explorar minhas ideias. Sem recursos, entrei no navio em meio a familiares que se despediam de quem seguiria viagem. Fiquei no porão por horas. Já em alto mar, me inseri entre os outros passageiros e desfrutei de todas as regalias da viagem. Primeiro, parei em Barcelona e, depois, em Gênova. Fiquei na Europa durante um ano e meio.

Diário - Sem recursos e sem conhecer alguém no Exterior, o senhor conseguiu se formar na Europa.
Diniz
- Eu não conhecia ninguém, mas fiz contato com firmas alemãs. Entre um trabalho aqui e outro lá, juntei U$ 100 e fui para Alemanha. Neste contexto, eu aprendi todos os idiomas possíveis: inglês, espanhol, alemão e o que precisasse. Estudava sozinho. Admitido na empresa de um engenheiro alemão, superei todas as expectativas da empresa. Aprendi muito com ele. Prestei atenção em tudo. Adentrava em todas as áreas. Era ousado em tentar fazer o que me era proposto e ia além. Logo, ele me enviou para a Áustria para aprender sobre fundição. Dois anos depois, voltei para o Brasil com um curso superior. Eu tinha uma dívida de gratidão com a primeira empresa que confiou em mim. Queria compartilhar com eles o que havia aprendido.

Diário - E nesse contexto, como estudou?
Diniz
- Estudei em engenharia mecânica em Barcelona.Passei fome e frio e morei em um apartamento bem simples. Às vezes, eu tinha um pão francês para café da manhã, almoço e janta. Um dia, eu andava na rua doente, muito sujo, com fome e barbudo. Entrei em um lugar para consultar e tinha um senhor na fila. Conversamos, ele arrumou emprego para mim e me deu uma bolsa de estudos. Era o professor Gali, diretor da Universidade Federal de Barcelona. Jamais irei esquecer do que ele fez por mim.


Em família, com Maria, os filhos Priscila e Diego, e o genro, Clécio

Diário - Como fez amizade com Carlos Slim, um dos homens mais ricos do planeta?
Diniz
-Trabalhei na Thor Máquinas por 24 anos. Em tantas viagens, conheci muita gente, entre eles o diretor da Souza Cruz. Como estavam no início das instalações, fui convidado a colaborar na produção dos equipamentos. Em Paris, conheci Carlos Slim. Devido à experiência com os equipamentos da fumageira, ele perguntou se eu poderia ajudá-lo Eu nem sabia quem era, até que um avião particular foi me buscar para ir até a fazenda dele. Lembro que sugeri que Slim trocasse todo o equipamento e, constrangido, perguntei se ele tinha como pedir um financiamento. Ele é dono, praticamente, de todas as empresas de telecomunicações do mundo. Entre tantas experiências, guardo a lembrança de ter construído o primeiro autogiro (aeronave) do mundo.

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